Rodrigo Patussi Nascimento
Quando o produtor rural pensa em otimizar o desempenho de sua propriedade, alguns fatores são tomados em conta, como planejamento e administração financeira; manejo do rebanho; produção forrageira e nutrição. Entretanto, se há um indicador no qual o empresário rural precisa investir, de forma correta e assertiva, é o gerenciamento de recursos humanos.
Em equilíbrio, alinhando técnica, finanças e de gerenciamento pessoal, é possível uma exploração rentável, atingindo ou, até mesmo, superando patamares de R$ 500/hectare/ano de lucro.
As atitudes empresariais acima citadas são preponderantes e complementares, ou seja, de nada vale a administração perfeita dos recursos financeiros se os mesmos não traduzirem ações que possibilitem uma oferta alimento de qualidade e quantidade que venham a prover maior produção de @/ha. A chave para o sucesso do negócio, seja em qual área for, é a gestão dos recursos humanos, ou como preferimos chamar: talentos humanos (TH).
Para o sucesso na gestão do TH, precisamos conhecer algumas características que conduzem o comportamento do ser humano. Basicamente, para que tenhamos um indivíduo plenamente satisfeito e produtivo é necessário que ele esteja em equilíbrio em plenas condições na saúde física, familiar, social, financeira, intelectual e espiritual. Sendo assim, o desequilíbrio de um ou de vários destes pontos das chamadas ‘cinco saúdes’ fazem com que a pessoa não reúna os elementos para que lute com afinco por seus ideais. Tudo isso se aplica diretamente ao trabalho desenvolvido ‘dentro da porteira’.
Olhando assim parece difícil a aplicação real de tais teorias, entretanto o desafio mais complexo é o que chamamos de gestão de equipe de alta performance. Que nada mais é que fazer com que todos os colaboradores trabalhem em sinergia e compromisso na conquista das metas propostas.
De acordo com o benchmarking da safra 2016/2017, do Instituto Inttegra de métricas pecuárias, identificamos fazendas classificadas como “top rentáveis”. Essas empresas apresentaram lucro líquido por hectare cinco vezes maior que as médias das que praticam a mesma atividade.
Sabe o que essas empresas têm em comum? Segundo o estudo, o propósito de trabalho que move toda a equipe. Nessas propriedades rurais, o serviço tinha um significado real aos colaboradores e o estímulo era determinado e cultivado, diariamente, pelo ‘líder’, ou seja, pelo gestor principal. É dele a responsabilidade de traçar os caminhos que levam a conquista das metas e perpetuação da empresa.
O papel da liderança, segundo Antônio Chaker, coordenador Instituto Inttegra, é garantir o rumo da empresa. Ok! Mas, não apenas isso, é trabalho do mesmo garantir as condições de trabalho ideal para o desenvolvimento, como, por exemplo: estrutura, ferramentas, remuneração, capacitação e, principalmente, o propósito.
É este o cenário desenhado no mundo moderno. Se faz cada vez mais perceptível uma nova geração mais focada na missão, na visão e no propósito, do que na função em si. Os profissionais no futuro destoam da imagem de ‘fazer por fazer’.
Como se aplica isso ao agronegócio, dentre os exemplos de propósito podemos citar a produção do bezerro mais pesado da região ou a carne com melhor qualidade dentre os pares; ter implantado um sistema de criação com bem-estar ou mudar as práticas conservacionistas.
Estudando de forma mais profunda as empresas pecuárias que se destacam anualmente pela competência na gestão de seu “time” de colaboradores e, consequente, conquista de resultados financeiros expressivos, encontramos três comportamentos semelhantes.
O primeiro é um projeto que determine metas e considere elementos como o desempenho produtivo, o comportamento financeiro, a relação de área e rebanho e, de forma contundente, o relacionamento da equipe.
O segundo é a sistemática de gestão que priorize tomada de decisão baseada em informações confiáveis e precisas, produzidas da “porteira para dentro”. Gestão dos recursos produtivos, financeiros e humanos objetivando a conquista continua do lucro por hectare.
O terceiro, e não menos importante, método de sucesso está a formação de uma equipe realizadora, que se baseia no conhecimento gerado através da clareza nos objetivos e capacitação contínua, permitindo assim a execução “excelente” da atividade proposta.
Tomando nota desses pontos, durante a execução de um projeto definido como sendo altamente eficiente, identificamos a necessidade de estar claro para toda a equipe, do gestor ao serviço gerais, qual é o objetivo da atividade, o que todos precisam realizar para alcançá-los (responsabilidades e participação), como serão medidos, em que frequência saberão como estão desempenhando suas tarefas (indicadores) e, principalmente, qual o real benefício gerado pelo seu trabalho à empresa.
Na pecuária é bem visível que os processos e a excelência em sua execução são colocados à prova quando avaliamos sistemas de produção intensiva, como o confinamento. Mais que tudo, este é um exemplo no qual a ação humana é determinante não só pela conquista da eficiência produtiva animal, mas pela própria sobrevivência deste, além de evidenciar a importância do cuidado e assertividade na perfeita execução das rotinas. Ao confinar o cumprimento das tarefas pelo “time” da fazenda, tem grande impacto nos resultados finais.
De maneira simples temos que proporcionar a equipe a maior chance possível de conquista das metas propostas, então inicialmente esses colaboradores devem “saber” quais são, opôs isso “entender” como esse indicador é alcançado, ou seja, como suas ações do dia a dia interferem no mesmo. O monitoramento que possibilita “medir” se estão alcançando ou não é fundamental, mas principalmente, um monitoramento eficiente que permita a correção da rota ainda em tempo de alcance da meta. Por fim, a “execução” é o que traz o resultado, e somente uma equipe preparada e treinada consegue essa realização com a excelência necessária.
É determinante para o projeto estudar e definir as características estruturais e o perfil da equipe que será responsável pela gestão e execução. O melhor é que apenas medidas simples e diretas podem ser adotadas para mudar este cenário, vamos dez atitudes e ferramentas práticas, muito usuais para o aumento da performance da equipe:
Definir com clareza o projeto e as metas a serem alcançadas;
Determinar qual o time de colaboradores necessários para execução (cargos);
Determinar as entregas de cada cargo;
Descrever os procedimentos básicos para que as entregas sejam cumpridas;
Desenvolver habilidade para execução das tarefas e para resolução de problemas;
Determinar autonomia de cada colaborador na tomada de decisões;
Estabelecer quais os indicadores utilizados para monitorar resultados e criar sistema de geração dos mesmos;
Estabelecer rotina gerencial que permita análise periódicas dos resultados e correções;
Capacitar os colaboradores no quanto ao entendimento do sistema de métricas estabelecidas;
Elaborar periodicamente um plano de ação para as demandas diárias, semanais e mensais.
É como num jogo de futebol: a meta deve ser clara, ou seja, no futebol sabemos que para ganhar o jogo temos que marcar mais gols que o adversário e no confinamento precisamos, de maneira geral, produzir a arroba mais barata possível, aproveitando de forma eficiente nossos recursos. O fato que para a equipe o placar de ambos deve estar evidente durante e não somente ao final do “jogo”.
Como em sistemas intensivos de pastejo temos longos períodos, sem a possibilidade de interrupção dos trabalhos devido aos manejos necessários, uma escala de serviço e substitutos são fundamentais para mitigar possíveis riscos produtivos. Uma característica dessa estratégia produtiva, consiste em treinar um colaborador na execução de mais de uma tarefa, possibilitando assim em momentos específicos, ajustes priorizando uma escala saudável de trabalho.
O mesmo princípio geral de gestão, que consiste em saber onde está, onde quer chegar, traçar uma estratégia que respeite recursos disponíveis ao longo do tempo e medir para garantir a execução, pode e deve ser usado para construção de um time realizador.
O mais importante é a prioridade dada aos talentos humanos da empresa. Gente é solução e não problema. Construir a cultura que favorece o desenvolvimento de pessoas realizadoras é papel fundamental do líder.
A prática de simplesmente achar que as pessoas devem se adequar ao planejamento tem se mostrado experiência sofrível. O melhor é alinhar o planejamento técnico de acordo com a cultura e características de todo o time da empresa no qual o gestor é peça chave.